Não sobrou nenhum lugar no Auditório do Terminal Náutico da Bahia para assistir ao Ciclo de Palestras promovido pela
FENEB ontem. Os velejadores baianos compareceram em peso para prestigiar as três apresentações da noite, além de trocar experiências com os palestrantes. Até mesmo alguns velejadores estrangeiros, cujos barcos estavam ancorados no Terminal Náutico, participaram da palestra e apreciaram a vivência.
A primeira apresentação foi feita por
Válter Wichowski, comandante do veleiro
Vadio, que contou como foi a aventura de fazer uma travessia do Atlântico ida-e-volta em solitário. Válter cobriu a distância de mais de 3300 milhas náuticas entre
Salvador e a
Cidade do Cabo em 33 dias a bordo do seu veleiro de aço de 36 pés, chegando em terras sul-africanas dois dias antes do Natal. Lá, ele passou um mês de férias com a família,(que viajou de avião) antes de fazer a viagem de volta, com uma parada na ilha britânica de
Santa Helena.
"Ficava fascinado ao ver veleiros vindos de outros lugares. Escolhi um veleiro de aço pois tinha a intenção de fazer viagens longas," contou Válter. Durante a sua palestra, o comandante do
Vadio falou sobre os equipamentos de segurança que levava a bordo, citando desde aparelhos convencionais a qualquer barco de oceano como o rádio VHF até equipamentos mais sofisticados como o
telefone via satélite ou o
sistema AIS de reconhecimento de navios. "O telefone via satélite possibilitou a checagem diária da meteorologia através da internet, dando segurança para que pudesse escolher a melhor alternativa para uma viagem tranquila. A meteorologia foi muito importante e incrivelmente precisa!"
Ao falar sobre os lugares visitados, Wichowski teceu elogios ao clube náutico local: "O
Royal Cape Yacht Club está acostumado a receber visitantes de todo o mundo. Embora não te tratem com excesso de atenciosidade, estão sempre dispostos a ajudar." Já em
Santa Helena, uma situação inusitada: "Levei o bote com o motorzinho de apoio só para desembarcar lá, mas não tinha ponto de desembarque! Você precisa pegar um 'táxi', uma pequena lanchinha local, para chegar em terra." Válter possui um
site com fotos e textos contando como foi a aventura transatlântica:
www.veleirovadio.com.brLogo depois, foi a vez de
Kan Chuh e
Marcelo Brochini falarem sobre a participação deles na regata
Mini-Fastnet, disputada em barcos iguais ao da
Transat 6.50 e que faz parte da campanha de qualificação de
Kan Chuh para a edição 2011 da regata transatlântica em solitário. A dupla apresentou todos os passos de preparação para a regata, desde o treinamento com equipamentos de salvatagem até a última velejada antes da largada, e mostrou em fotos como foi a experiência.
"Para participar na
Mini-Fastnet era necessário participar num curso de resgate e procedimentos de sobrevivência. Além de utilizar a vestimenta obrigatória de neoprene, que protege completamente do frio, aprendemos a abrir as balsas de abandono e a resgatar o companheiro em caso de queda no mar," contou
Kan Chuh. A viagem de
Douarnenez até a
rocha de Fastnet foi uma difícil perna de contravento: "Frio, onda, tempestade, bate-bate... mas foi uma experiência fantástica," afirmou Marcelo. Só que a aventura ia ficar ainda mais emocionante: "Foi muito bom chegar na Irlanda, só que já perto de chegarmos o vento rondou para a popa! Ou seja, íamos pegar mais contravento na volta," disse
Kan Chuh.
Mesmo com todas as dificuldades, a dupla conseguiu completar a regata sem qualquer avaria ou machucado: "O Marcelo foi o melhor tripulante do mundo, sempre positivo! Ainda não tínhamos velejado juntos antes da regata, e o warm-up foi essencial para treinarmos e checar os últimos detalhes antes da regata," contou o timoneiro. Kan Chuh encerrou a palestra mostrando o agradecimento ao Senhor do Bonfim pelo sucesso na superação do desafio de 700 milhas.
O encerramento ficou por conta de
Gerald Wicks, que trouxe os detalhes do projeto do
Marujo's/Bomix (AIC/BA) na
Semana de Vela de Ilhabela deste ano, na qual conquistaram o
6º lugar na classe ORCi 500. "O objetivo dos
marujos é correr regata. Quando nós decidimos correr em
Ilhabela, nós fomos para competir," declarou Wicks.
A equipe baiana, que levou uma semana para levar o barco de Salvador até o litoral paulista, competiu com alguns dos melhores barcos da América do Sul na classe ORC. "Corremos contra tripulações 100% profissionais, enquanto nós fomos pra lá com a tripulação que competimos na Bahia, composta por nossos amigos. Resolvemos também chamar alguns nomes de peso na vela de Salvador para reforçar o nosso time de amigos e participar com a gente," contou Gerald. "Só vimos o resultado efetivo de toda nossa preparação lá em Ilhabela, pois não temos muitas regatas com competidores do nosso nível aqui na Bahia," completou.
Quando o assunto foi o investimento empreendido pela equipe baiana, a plateia percebeu que os valores são bastante acessíveis para uma campanha desta magnitude: "Nós recebemos o apoio da Bomix e da FENEB para ir a Ilhabela. Somando todos os custos com a tripulação (cerca de 10 tripulantes) e equipamentos, chegamos a algo próximo de 10 mil reais. Se levássemos a tripulação de férias para qualquer lugar no Brasil, por uma semana acabaríamos gastando quase a mesma quantia," contou Wicks. "Esse evento que a FENEB promove é maravilhoso para desmistificar os investimentos necessários para competir lá fora," completou.
Ao final da palestra, o presidente da FENEB, Arnaldo Pimenta, considerou que o Ciclo de Palestras atingiu os seus objetivos: "É importante saber que o investimento de uma campanha em Ilhabela é viável e possível de ser realizado, para podermos desmistificar a náutica para o público baiano. Além disso, a importância de transmitir o conhecimento e informações para todos nós é fundamental para aproximarmos a comunidade náutica baiana cada vez mais."
Se você não pôde estar presente no Ciclo de Palestras, você terá mais uma chance de conferir como foi! Amanhã às 21h00, Válter Wichowski, Kan Chuh, Marcelo Brochini e Gerald Wicks estarão no programa Salvador Náutica na TV Salvador, que pode ser sintonizada no canal 28 da sua antena UHF (aberta) ou no canal 36 da NET.
Fotos: Maurício Mascarenhas