quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O grande "épico" da vela brasileira (Parte 2)

Dando continuidade à série "Veleiros que marcaram a História", hoje continuamos com a segunda parte da reportagem especial sobre o Brasil 1, primeiro representante canarinho na Volvo Ocean Race.
Logo na primeira perna de oceano da edição 2005-2006 da VOR, o Brasil 1 teve o gostinho de liderar a flotilha por várias milhas, até que o ABN Amro 1, que viria a ser o campeão, ultrapassou o time brasileiro. "Mas não ficamos muito chateados, afinal, desde que a regata no oceano havia começado, era justamente a 'zebra' brasileira que tinha liderado a maior parte do tempo," afirmou o comandante Torben Grael no livro Lobos do Mar.
No percurso entre Vigo e a Cidade do Cabo, a vantagem de ter construído o VO70 no Brasil foi definitiva, já que de todos os veleiros projetados por Bruce Farr que estavam correndo (Ericsson Racing Team, movistar e Pirates of Caribbean), apenas o Brasil 1 não havia sofrido danos severos na estrutura da quilha. Ao final da perna, os brasileiros chegaram em terceiro na Cidade do Cabo e puderam comemorar com um grande churrasco o fim da primeira etapa da odisseia.
A segunda perna, porém, não foi boa para os brasileiros. A quebra do mastro a 1200 milhas da costa oeste da Austrália frustrou os planos do time em terra, mas fez crescer a simpatia e o apoio à equipe brasileira nos quatro cantos do mundo: "Mensagens de todos, do Presidente da República até o mais simples torcedor, nos davam ânimo para enfrentar aquelas incontáveis milhas no nosso pássaro sem asa," conta Torben.
Os principais jornais australianos noticiavam a travessia do barco brasileiro pelas estradas do país em direção à costa leste com a manchete "Brasil 1, a Rainha do Deserto," uma alusão ao filme Priscila, a Rainha do Deserto. Mesmo com os reparos e a instalação do novo mastro concluídos em tempo recorde, os canarinhos não foram bem na in-port de Melbourne, conseguindo apenas o quinto lugar depois de problemas com o balão. Na terceira perna, em direção a Wellington, na Nova Zelândia, o Brasil 1 estava começando a voltar ao ritmo, e conseguiu um bom quarto lugar.
A ida para o Rio de Janeiro aumentava as expectativas do time: "Imagine só se chegarmos em primeiro lugar. O Rio de Janeiro terá uma rua Stu Wilson, uma avenida Kiko Pellicano e uma praia Knut Frostad," disse com bom humor o norueguês Knut. Depois da passagem pelo famoso Cabo Horn a quase 30 nós de velocidade, as calmarias prejudicaram a equipe e o time local só conseguiu o quarto lugar na chegada à casa.
Na regata in-port, o público compareceu em massa às praias cariocas, atingindo a imponente cifra de 70 mil pessoas, mais de 5 vezes a média de público do Brasileirão de futebol. Mesmo tendo ficado em quarto lugar, o Brasil 1 foi ovacionado pelos presentes como se fosse o vencedor. E era mesmo, já que a equipe liderada por Torben Grael conseguiu superar as adversidades e gravar o nome do país na Volvo Ocean Race.
Um dos momentos mais inesquecíveis foi a vitória do Brasil 1 na oitava perna, entre Portsmouth, na Inglaterra, e Rotterdam, na Holanda. Com muito esforço e uma liderança muitíssimo apertada para uma regata de dimensões oceânicas, o barco brasileiro ganhou do veleiro local, o ABN Amro 1, e fez uma grande festa no porto holandês. A imprensa local ficou decepcionada pela derrota do time da casa para a equipe brasileira: "Foi aí que um repórter mais afoito da TV holandesa se aproximou do navegador do Brasil 1, Marcel van Triest, e, forçando uma barra, perguntou: 'Como você se sente sendo o primeiro holandês a chegar em casa?' Marcel disse educadamente que era também brasileiro e abriu uma cerveja," relatou o comandante Torben Grael. Ao final da competição, na cidade sueca de Gotemburgo, o Brasil 1 e seus bravos tripulantes escreveram seus nomes para sempre na História, ao ultrapassar todas as dificuldades e conseguir um honroso terceiro lugar e elevar o país verde-e-amarelo ao topo da vela mundial.

fonte: GRAEL, Torben. Lobos do Mar - Os brasileiros na regata de volta ao mundo. Rio de Janeiro, Objetiva, 2008 - fotos: Site Oficial do Brasil 1

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